Capítulo 20 – Conhece aquela frase “os incomodados que se mudem”?

Mal deitei na cama do quarto do Junior, sim, ele está me fazendo ficar no quarto dele. Motivo? I don’t know. Continuando, mal deitei na cama e já tive que acordar de novo. Essa vida difícil de aeroporto virar casa é complicada sabia? Senti-lo distribuir beijos no meu rosto e tô me perguntando desde quando essa nossa intimidade ficou tão forte? Vim três vezes pra Barcelona e olha como já estamos! Abrir os olhos lentamente e já estava mais claro que o habitual.

Junior: É muito dorminhoca mesmo... – puxou meu corpo. Eu estava com uma blusa dele porque ele insistiu que eu não deveria abrir nem a mala. – Dá vontade de nem ir embora né?

Julie: Foi você quem inventou de querer viajar assim. Nem pra me dizer... – andamos até a sacada e eu fiquei de frente pra ele. Junior tirou uma mecha do meu cabelo e ficou me fitando. – Podia ter me dito que eu preparava meu francês.

Junior: Até parece que precisa preparar o francês. – graças a Deus ele parou de me fitar e desceu seus olhos e sua boca para o meu pescoço onde beijou ali. – Acho que vou desistir dessa viagem.

Julie: Nem inventa viu? Je veux savoir Paris!

Junior: Je t’aime. – falou enrolado e eu ri. – Nem vem que é assim mesmo que o Thiago me disse.

Julie: Thiago Silva capita? – ele assentiu. – Andou pedindo ajuda pra ele?

Junior: Algumas coisas sim. Ele mora em Paris né, – passei meus braços pelo seu pescoço e fiquei massageando o local. – aí quando tive a ideia de levar vocês, ele me ajudou em algumas coisas. Tipo onde vamos ficar, o que fazer, enfim... essas coisas.

Julie: Por que essa ideia maluca?

Junior: Ideia do seu avô vale lembrar. Ele quer pedir a sua avó em casamento de novo, quer dizer, ele quer tentar né? – abrir um perfeito O com a boca de tão chocada. – Aí ele lembrou que quando eles namoravam, antes de noivar, ela tinha dito que sonhou que eles passavam a lua de mel em Paris... – o interrompi.

Julie: Eu lembro dessa história! Vovó sempre teve o sonho de conhecer Paris, assim como eu de conhecer Londres, mas achei que tinha ficado no passado.

Junior: Pelo visto seu avô lembrou né? Ele me contou basicamente o sonho e acho que vou conseguir realizar um pouco deles.

Julie: O que você aprontou? É muita viagem?

Junior: Não pô! Eu consegui alugar uns apartamentos lá, são mini apartamentos, até porque alugar um quarto em Paris... não é nem pelo o dinheiro, mas achar um razoável.

Julie: As boulevars são pequenas mesmo. Continua...

Junior: Esses apartamentos ficam perto de Versailles, daquele aeroporto que começa com O, sem ser o Charles, – ri da cara que ele fez. – e perto de um bando de coisa. Thiago me ajudou com isso. – coçou a cabeça e eu arqueei a sobrancelha. – Só tem um problema...

Julie: Lá vem você...

Junior: É que os quartos são de dois. – bufei. – Aí, no caso, o Fred vai dormir com a gente.

Julie: Posso te matar já?

Junior: De beijo eu deixo. – rimos. Bati em seu ombro e ele beijou meu queixo. – Thiago acabou me contando isso depois, ficaria um preço bom pagar por três quartos de casal e conta aí, eu e você, Henrique e tia, vô Otávio e vô Nina, aí o Fred ia ficar deslocado?

Julie: Somos um casal? – ele assentiu e eu corei. Esse menino me mata, ou melhor, eu o amo primeiro. – Só você mesmo.

Junior afastou meu cabelo, desci minhas mãos do seu pescoço para sua cintura, juntando mais nossos corpos, e ele sorriu logo distribuindo beijos pelo meu pescoço. Parecia tudo muito em câmera lenta sabe? Minhas mãos se movimentavam por suas costas e as dele iam subindo sua blusa, que já era mais um vestido, deixando que aparecesse um pouco da minha bunda. Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi que nossos lábios estavam tão perto... nossos olhos, eu nunca tinha perdido que eram da mesma cor, não com a mesma intensidade, os dele dizem por si; os meus escondiam por si. Senti sua mão direita infiltrar por dentro da blusa e apertar minha cintura.

Xxx: OW VOCÊS! – ouvimos a voz de Fred.

Nos separamos rápido, mas não tão rápido para que Fred visse e ficasse rindo da nossa cara. Junior respirou fundo, passou a mão no rosto meio que agoniado e eu soltei o ar como se estivesse sido pega pela dona Patrícia. Esse menino, vulgo meu irmão, não tem amor à vida e que doidice do Junior deixar a porta aberta. Jesus do céu!

Fred: Mano! Cês tão branco! – riu, ou melhor, gargalhou.

Julie: Frederico, sério, você não tem amor à vida.

Fred: Iam transar na sacada? Não que eu não desconfie que vocês se peguem por aí, imagina, isso Santos inteira já sabe, agora que eu ia pegar vocês na sacada aí eu não estava preparado não. – veio andando até nós. – Minha irmã, cara.

Junior: Mas a gente não tava fazendo nada... – meu irmão olhou, colocou as mãos na cintura e o Junior me abraçou, beijando meu pescoço. – Nada que você não saiba.

Julie: Cala a boca, menino!

Junior: Ficou vermelhinha... – gargalhou junto com o meu irmão e eu revirei os olhos. – Já tá na hora, Fred?

Fred: Já até passou da hora. – arregalei os olhos. – Brincadeira, maninha, mas o pessoal tá todo lá embaixo já.

Puxei o Junior para dentro do quarto, Frederico veio logo atrás, separei uma roupa, na verdade já tinha pensado nela antes mesmo de deitar na cama haha fui no banheiro e passei uns dez minutos me arrumando enquanto os dois bonitinhos conversavam coisas aleatórios, mas eu duvido que o clima que rolou ainda a pouco não foi assunto também.

Julie: Let’s go, boys? – apareci pegando minha mala e o Junior ficou me olhando. – Que foi, Ju? – Fred saiu do quarto e o Junior se aproximou.

Junior: Eu sempre vou te fazer essa pergunta porque não quero que nada aconteça com a gente... tá tudo bem?

Julie: Na mais perfeita ordem, capitão. – dei um beijo na bochecha dele. – Pode ficar tranquilo que todo o clima que rolar com a gente vai ficar tudo bem viu? Só não quero você forçando alguma coisa.

Junior: Não seria capaz disso.

Julie: Acho bom mesmo.

Pegamos as últimas coisas, descemos, Junior chamou o taxi para não acordar ninguém e seguimos para o El Prat. [...] Uma horinha e quarenta minutos depois chegamos em Paris, já estava mais do que de manhã, descemos no Orly — já que o Junior achou melhor pelo Charles de Gaulle ser mais movimentado e dar mais assunto a mídia — e seguimos para o apartamento que o Thiago indicou. Achei tão bacana a iniciativa, sei lá, me surpreendo com essas amizades que ultrapassam o futebol, porque pode parecer besteira, mas a impressão que dar é que eles são amigos só ali dentro de campo, o lado “família” fica por fora. Agora, o que eu estou vendo fora de campo, convivendo com o Ju é completamente diferente. O apartamento era uma fofura! Ficava no 9º Arreduto como eles chamam aqui e é perto de locais de arte, algumas arquiteturas — das mais antigas na época da Alta e Baixa Idade Média até as mais modernas — e de compras, pois é claro que, estando em Paris eu iria comprar alguma coisa né?

Fred: Vou ficar de vela é isso mesmo?

Junior: Cara, assim, eu ia te colocar com o Henrique e a tia, mas achei melhor não.

Fred: Podia ter chamado a Rafa né?

Junior: Que isso?! – tive que rir da cara que ele fez.

Julie: Vocês vão ficar aí? Porque eu vou sair.

Deixei os dois ali discutindo, meus avôs já estavam lá embaixo junto com o casal mais fofo do mundo — eu sei que sou suspeita a falar — e logo chegou a dupla fantástica. Começamos o nosso tour pelo bairro de Marais, no 3º e 4º ARR, nele ficamos apenas para passear pela Place des Vorges, até por conta do horário, mas o Junior me prometeu que iriamos no museu de D’Orsay. Depois seguimos para o Montparnasse, não o arranha-céu, e sim o bairro. Conhecemos toda aquela localidade de estudantes do século XX, que ocupavam o território e acabaram por apelidar o nome do bairro de “Bairro Latino” — pela diversidade que ali se encontra. Depois da vovó reclamar, por fim, chegamos ao Camps de Mars — local onde fica a Eiffel — e sinceramente é linda cada vez que você chega mais perto.

@julietaschutz: Dormi em São Paulo e acordei Paris! Bonjour!

Ficamos caminhando por ali, compramos sorvete, comprei umas lembrancinhas, aquelas típicas cinco euros que você encontra por vinte em lojas oficiais e resolvemos nos distanciar quando vimos que o clima entre meu avó e minha avô tinha começado a se ajeitar. Me apoiei na ponte Alexandre III e Junior ficou do meu lado, depois de pedirem algumas fotos, mas assim que ele chegou, me abraçou e beijou minha bochecha, meu telefone tocou e era Ricardo. Deixei de tentar fugir, de não querer resolver e por mais que eu saiba que o pior erro é resolver a distância, não vai ter escolha.

Ricardo: Porra, até que enfim resolveu parar com a frescurinha e me ouvir! Paris, Julieta? Foi o jogadorzinho que te mandou pra aí?

Julie: Você sabe que eu odeio quando você fala assim.

Ricardo: Quer que eu fale como? Pra viajar comigo tu anda de frescura, faz uma coisa, só falta dizer não, com ele é rapidinho. Tá sabendo que o amigo boiola dele me deixou de olho roxo? – olhei pro Junior e ele ficou mudo. – Hein?

Julie: Não... – minha voz quase falha. – Quem foi?

Ricardo: Aquele loirinho... Gustavo! Aí quando eu vejo tu viaja com ele e não viaja comigo, sendo que eu sou seu namorado, eu que divido uma vida contigo...

Julie: Ricardo, por que o Gustavo te bateu?

Ricardo: Tava na festinha lá, encheu a cara e veio querer arrumar confusão... – lembrei do que ele me contou. Não sabia em quem acreditar. – Moleque metido a playboy.

Julie: Rick, vou ter que desligar. Tchau!

Flashback on

Julie: Confio. Ele é sempre muito sincero comigo. Por quê?

Gustavo: Não... Nada... É que eu conhecia um cara da época do colégio, ele tinha uma namorada gente boa, apaixonada por ele, e ele vivia dando desculpas à ela, traía a mina na maior cara de pau... Todo mundo sabia mas ela nunca quis acreditar. Até que encontrou ele na cama com outra – riu de canto.

Julie: Nossa, que horror!

Gustavo: É...

Julie: Já passou pela minha cabeça, mas acho que o Rick não seria capaz disso... A gente esperou tanto pra saber se realmente deveríamos ficar juntos, se daria certo, e sei lá... Confio nele – sorri e ele deu o famoso sorriso amarelo.

Flashback off

Não, não, não pode ser! Fred veio com a água porque fazia um tinquinho de calor e minhas lágrimas começaram a escorrer. Senti o Junior me abraçar, ele ouviu toda a conversa — já que estávamos de fone de ouvido — e o encarei como se não tivesse por onde sair. No momento eu não tenho raiva do Gustavo, até porque, eu tô supondo uma coisa que nem se é verdade. Estou com um misto de raiva e de querer saber o que de fato aconteceu, mas ao mesmo tempo medo da verdade, me decepcionar.

Junior: Julie, me escuta... – andamos mais um pouco e sentamos em uns bancos que tinha perto dali. – Ele falou a verdade. Quer dizer, meias verdades.

Julie: Como assim meias verdades?

Junior: O Gustavo bateu nele, sim, mas foi porque ele viu o Ricardo com uma menina. – meu coração apertou e eu já conseguia mais enxergar tão bem. – Por favor, não chora. Não queríamos te contar porque isso ia acontecer, quando ele me disse, minha vontade foi socar a parede de casa, quebrar tudo, ir pro Brasil e quebrar o Ricardo, eu só não fez isso porque não queria te ver assim.

Julie: Eu não consigo acreditar que ele foi capaz disso, é demais pra mim... trair? Quem era a garota? Gustavo conhece?

Junior: Não, ele não conhece. Mas olha, – passou a mão no meu rosto limpando as lágrimas. – esquece isso por enquanto tá? Se ele te ligar da próxima vez quem vai atender sou eu. Ele tem que ouvir!

Ficamos um tempo ali, só nós dois, eu abraçada com ele, enquanto a ele só restava alisar meu cabelo e parecia que tudo no colo do Junior se resolvia. Não sei qual remédio essa família tem, porque com a mãe dele foi igual, mas eu estava amando todo esse afeto e sem mais era o que eu precisava no momento.

@julietaschutz: 

[...] Acordei com a sacada do quarto um pouco aberta e o vento batendo no meu corpo. Fred não estava lá e eu ouvia o Junior gritando com alguém pelo outro lado da linha. Já estava de noite, saberia que agora seria a hora da saída dos casais e só de me lembrar me deu vontade de chorar de novo. Junior olhou pra mim, acho que percebeu e entrou de volta no quarto.

Junior: É o babaca. Quer falar? – neguei com a cabeça e continuei deitada. – Vou colocar no viva-voz. – ele sentou na cama e colocou o celular do nosso lado ativando o viva voz. – Você traiu a Julieta! Quer que ela volte e vocês hajam como se estivesse tudo bem?

Ricardo: Tu tem prova que eu traí? Teu amigo podia tá bêbado, ter inventado isso só pra me socar...

Junior: Estranho é que você nem revidou né? Deixou quieto.

Ricardo: O que é dele tá guardado, chapa. Não costumo deixar as coisas serem levadas do jeito que eu não quero. Inclusive, você não tem nada que tá perto da Julieta não. Ela é minha namorada, eu decido com quem ela anda, e se eu não quero que ela ande com você é porque ela não vai andar.

Junior: Conhece aquela frase “os incomodados que se mudem”? Pode sair se quiser. Outra coisa, ela é sua namorada, não um objeto que você usa e não larga. Tem que saber tratar as mulheres como elas merecem, afinal, como você disse a Julieta é sua namorada e tem muito homem por aí de olho e querendo uma namorada como ela. São raras e quando são encontradas geralmente o cara que tá do lado não percebe o valor que elas fazem nas nossas vidas.

Ricardo: O que cê quer dizer com isso? – Junior ficou em silêncio. – Ow, meu?

Mas o Junior desligou a ligação. Levantei e o abracei, como eu precisava do seu abraço mais do que devia, e ele sabia disso. Beijou meu ombro e me confortou mais uma vez. Todas as palavras que ele disse ao Ricardo ainda a pouco eram verdade, e foi tão verdadeiro, que eu poderia simplesmente achar que a Bruna deveria agradecer todos os dias por tê-lo como namorado. Podem dizer o que for, ele pode passar a imagem do que for, mas por trás, ele é uma pessoa maravilhosa, iluminada por Deus e que sabe ser guiada pela luz Dele. Decidimos ir jantar, só nós dois, me arrumei e fomos para o Buddha Bar — um dos restaurantes queridinhos pelas celebridades.

Junior: Vai pedir o quê? Pelo amor de Deus traduz esse cardápio.

Julie: Posso pedir qualquer coisa? – ele assentiu. – Olha lá hein. – escolhi, fiz os pedidos e percebi que meu celular vibrou com uma notificação dele. – Que foto você postou?

Junior: Vê aí e diz se gosta. Tá top!

Abrir e sabia que isso era obra do Frederico. Atualmente ele e a rafa estão sendo nossos fotógrafos oficiais — principalmente se o assunto for fotos espontâneas.

 @neymarjr: Aquele clique espontâneo de um sub-mestre 

Julie: Sub-mestre?

Junior: Mestre que não vai ser né? – nossos pedidos chegaram. – Será que o vô vai conseguir?

Julie: Estava pensando nisso agora sabia? Ai, vou aproveitar pra postar aquela foto que você tirou lá no Opera.

Junior: De maquiagem? Até que não ficou ruim hein! Quero te ver sempre sorrindo viu bonita?

Julie: Vou tentar ao máximo.

Escolhi a foto já que ele tinha feito um book praticamente, editei e postei. Esse menino leva jeito pra coisa.

@julietaschutz: O que esperar da noite parisiense?  @ Opera Montmartre 2

(...)

As especulações de que meu namoro com o Ricardo não estava bem já haviam começado. Depois daquela noite, ele ainda tornou a me ligar, mas eu não quis saber. Conversei com o Gustavo e ele explicou o que havia acontecido — na versão dele — na noite. Meu avô conseguiu voltar com a minha avó e eles estavam parecendo dois adolescentes namorando de volta. Já havíamos voltado para Barcelona e agora eu estava no Camp Nou à espera do jogo do Junior. Os jogadores estavam no aquecimento e pelo que liberaram da escalação, o Ju ia começar no banco. Fred estava numa empolgação — parecia até criança com presente de Natal — e eu estava na mesma né? Nem muito feliz e nem muito triste. A verdade é que nada está resolvido entre e eu e o Ricardo então isso quer dizer quando chegar ao Brasil terei que resolver e aquela dor de cabeça está voltando.

@julietaschutz: Frederico é o único interessado como podem ver. Tô me perguntando o que vim fazer aqui?  #soumerengue #nãotorçomesmo #soumaismarcelotwelve

Vó Nina: Sorrir mais um pouco, filha.

Julie: Juro que tô tentando, vó, mas é que tá difícil.

Vó Nina: Ricardo fez escolhas erradas, filha, mas quando nós chegarmos vocês decidem.

Julie: Creio que sim.

O jogo começou e sinceramente eu não sei se dormir, se não prestei atenção porque a conversa no Muchachas estava mais interessante, a única coisa que eu sei foi que o Junior fez had-trick, Messi fez dois e o Barcelona goleou com 5x0 logo para dá um tapa na minha cara. Quem vai ficar ouvindo na volta pra casa?

Nota Final:

Pequeno? Sim!!! Mas eu só postei porque é presentinho. O próximo talvez eu demore a postar e aí postei esse só para matar a curiosidade de vocês sobre “contaram para a Julie”? Sobre o GPS de Paris: não detalhei muito porque Paris ainda vai voltar mais lá na frente. Enfim... espero que tenham gostado! Beijosss!