Capítulo 17 – O tempo às vezes é alheio à nossa vontade, mas só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível

Neymar on

Julieta é uma pessoa especial. Eu podia ser um zé ninguém, ou como sou hoje, que ela me trataria da mesma maneira — e não falo isso só como aquelas historinhas para inglês ver — ela realmente é assim, e se todos os dias, ao deitar na cama, peço a Deus para que nada e nem ninguém a machuque é porque é a mais pura verdade.

Junior: Tô vendo que você não larga o colar – o telefone tocou de novo e ela revirou os olhos. – Acho melhor atender.

Julie: Ele é especial pra mim. – tocou no colar. – De alguma forma me sinto perto de você. – ela encerrou a chamada mais uma vez e olhou pra mim. – Por que essa loucura de querer me trazer aqui?

Junior: Queria te mostrar um local que você não conhecesse. A gente passa tanto tempo separado, só se fala por FaceTime e por WhatsApp. Eu gosto de estar perto das pessoas que eu gosto.

Julie: Sabe o que o nosso amigo Chorão dizia?

Junior: Não. – ri. – O tempo é rei?

Julie: Também. Mas que o tempo às vezes é alheio à nossa vontade, só o que é bom dura tempo o bastante para se tornar inesquecível. E pode ter certeza que eu vou lembrar de hoje quando eu estiver falando isso aos meus netos.

Junior: Consegui quebrar esse coração de pedra foi? – rimos. Peguei em sua mão por alguns segundos e sentamos, em perna de índio, de frente um pro outro. – É... Eu tenho um presente. Foi difícil de achar e era um dos últimos da loja.

Julie: Você compra passagem, flores, ingresso e ainda quer me dar mais presente?

Junior: Ele é especial... Também. – tirei do meu bolso. – É um colar de terço de São José. Sei que você é devota dele e quando passei em frente à loja vi amostra.

Julie: Meu Deus! Obrigada, sério, você sabe que não precisava.

Junior: Posso? – ela assentiu e eu levantei. Coloquei o colar, beijei sua testa e voltei ao meu lugar. – Que horas são?

Julie: Quase uma. Meia noite e quarenta e dois. Não me diz que...

Junior: Não, não... Meu treino é às três. É só que o Gil e o Jota não ligaram e a gente saiu sem avisar lembra?

Julie: É porque você queria sair "às escondidas". – o telefone tocou de novo e eu revirei os olhos. – Vou atender antes que aconteça o pior.

Ela ficou falando com ele e só deu para ouvir uns "tá, ele não é um babaca!" ou ela gesticulando com raiva. Por que quando a gente gosta/ama não conseguimos terminar? É óbvio que ela gosta dele e eu não consigo terminar com q Bruna porque nunca — mesmo que ela não tivesse com o babacão — daríamos certo. As coisas tinham que se ajeitar, entre nós [cada um dos relacionamentos], e seremos só amigos. Ela voltou e o sorriso de minutos atrás desapareceu dando lugar as lágrimas. Filho da puta que tá fazendo-a chorar!

Junior: Ei que foi? Que aquele filho da puta fez?

Julie: Eu só não aguento mais! É como se todas às vezes em que o ouço falar que vai mudar, ele fala da boca pra fora.

Junior: Você... gosta dele? – fiquei apreensivo com a resposta.

Julie: Gosto. O pior que gosto, se não, nem começaria um namoro. Eu pensei que ele fosse diferente... não no sentindo clichê da frase.

Junior: Talvez eu seja o problema. Eu entendo o que é ter ciúmes, e no caso dele, ainda é pior porque você já deu um fora antes.

Julie: Eu sei. – suspirou. – Eu entendo o lado dele também. Sempre penso que se ele viajasse com uma amiga, eu iria sentir ciúmes... Mas temos que confiar no nosso taco né?

Junior: É... – enxuguei as lágrimas do seu rosto e levantamos. – Quer passar no mc?

Julie: Sempre que eu vim aqui e voltar pro Brasil vai ser 10kg mais gorda.

Junior: Até parece que é gorda! Troca o rda por stosa.

Julie: IDIOTA! – bateu no meu ombro. – Vamos de mc né? Não vou fazer nada pra ti mesmo.

Junior: Eu pedi? – lhe abracei e beijei sua nuca. Julieta apoiou o corpo na porta do carro e eu fiquei entre suas pernas, segurando em sua cintura. – Sei preparar muita coisa. – sussurrei e ela se arrepiou.

Julie: Omelete né? Migo, cê deve ser o rei do miojo. – olhou para nossas mãos — agora — entrelaçadas e ficou vermelha. – Vamos? Não quero dormir tarde.

Junior: A noite é uma criança. – beijei seu pescoço e nos desvinculamos para entrar no carro. No caminho, o Jota perguntou onde estávamos que eles tinham chego da festa e estavam com fome. – Acho que você vai ter que preparar comida pra alguém. Quer dizer, pros alguns.

Ela revirou os olhos, e por alguns segundos, eu vi futuro na nossa relação. Mas não esse tipo de futuro, como amigos, era um futuro de relação a dois; de um mundo de Julieta que eu poderia explorar e que não teria nenhum pouco de medo. Paramos no primeiro drive-thru, que apareceu depois da estrada, e sinceramente, era visível a nossa felicidade e simplicidade que tínhamos um com outro. Entramos, ela sentou numa mesa, e aquela uma e quinze da manhã, com o fast-food vazio, a loira dançava animadamente um flashback que tocara da época dos nossos pais.

Julie: It's a little bit funny Lord, this feeling inside, I'm not one of those who can easily hide. I don't have much money but, boy, if I did, I'd buy a big mansion where we both could live – a olhei e ela balançava os braços como se estivesse numa discoteca. – If, if, if I was a sculpture Lord, honey, but then again, no, or a man who makes potions in a travelin' show... AMO!

Junior: Percebi. – sentei a sua frente. – Eles vem trazer aqui. Quem canta?

Julie: A autoria é do Elton John, mas essa versão é do Billy Paul.

Junior: Nem ficou animada né? – rimos. – Pelo menos você já tá sorrindo. Assim que eu gosto viu?

Julie: Sou mais bonita sorrindo né? – o cara trouxe os pedidos. – Ai Jesus, double cheddar! Cadê minha academia?

Junior: Você ainda vai apostar que tá gorda?

Julie: Mas eu estou sim.

Junior: Vou ser seu personal então

Julie: Vish...

Junior: Eu manjo dos assuntos tá?

Julie: Aham... – começou a comer suas batatas e eu dei uma piscadinha, roubando uma dela. – Não vale!

Junior: Tem que saber dividir com os coleguinhas. Faltou essa aula?

Julie: Nossa, engraçadão... – mandou língua. – I hope you, I hope you go back and tell everybody that this is your song, it may be quite, quite simple, but now that’s how it’s done...

Junior: Você podia morar aqui né?

Julie: Oi? Nem inventa... nem nos seus sonhos. I hope you don’t mind, I hope you don’t mind but I wrote down in words, Lord...

Saímos do mc com ela cantando e dançando. Ainda tirei foto com os funcionários e voltamos para casa. A ideia dela morar aqui não era ruim — ao menos no meu ponto de vista — e assim, ela ficaria mais perto de mim e longe do Ricardo, o que é outro ponto positivo. É como se tudo, a partir de agora, girasse ao nosso favor.
Entramos em casa e os dois folgados estavam sentados jogando videogame. Julieta colocou a bolsa na mesa e fomos direto para cozinha só ouvindo o Cebola falar “quem é meu pato?” pro Jota.

Julie: Tem lasanha. – disse abrindo a geladeira.

Junior: Cê ainda tá com fome? – coloquei minha cabeça no seu ombro e abracei sua cintura. Descobri que esse é um dos nossos melhores abraços. – Mente de gordo é foda.

Julie: Me respeita, agradecida. É para os meninos leso!

Junior: Para eles você prepara né? – girei seu corpo e passei minha mão no seu rosto. – Se eu pedisse...

Julieta não sabia para onde olhar. As minhas mãos firmem, pousaram em sua cintura, nossos olhares se cruzaram e nossas bocas estavam quase encostadas. Mas por sorte ou azar, era nítido que iria rolar, ouvimos a voz do Gil a nossa frente.

Gil: Jota, eu deito em você desde que o Fifa foi criad... – parou, olhou para o Joclésio e riu... – acho que a gente atrapalhou algo.

Julie: Não, - ajeitou o cabelo e eu a soltei. – eu ia preparar essa lasanha semi pronta para vocês, mas o mestre quis se meter né?

Gil: Geralmente a única coisa boa que sai do NJ na cozinha é miojo.

Junior: Vou já te demitir hein! – sentei na mesa e os dois vieram comigo. Eles entraram em um assunto aleatório e eu fiquei prestando atenção nela cozinhando. Íamos nos beijar, com ela sendo fiel ao Ricardo, e eu sei que pode parecer besteira, eu não me agoniaria de trair a Bruna com ela. O único problema é que nossa amizade acabaria. – Que, Jota?

Jota: Tô te chamando mil horas já. O que aconteceu antes da gente chegar?

Junior: Depois. – a loira apareceu com os dois pratos de lasanha. – Tá cansada né?

Julie: Um pouco. Eu queria ver se ficava aqui conversando com vocês, mas quase não tô me aguentando em pé.

Junior: Vai dormir então... vou subir contigo pra trocar de roupa.

A verdade é que eu não ia só trocar de roupa. Eu sabia que a Julie estava estranha e que ficou um climão, então, melhor ajeitar isso antes que seja tarde.

Junior: Julie, dorme lá no quarto.

Julie: Oi? Por quê?

Junior: Teve um problema infiltração no teu quarto e os outros nem estão arrumados. – inventei a primeira coisa que veio na cabeça.

Julie: Tudo bem então

Entramos no meu quarto, sentei na cama e por já ter levado as coisas dela pra lá, fiquei a esperando tomar banho e se arrumar. Li algumas mensagens no grupo da Seleção, respondi minha mãe e vi que a Bruna tinha postado uma foto com o Bruno Gissioni dando a entender que ela não estava comigo, ou seja, eu já podia postar que era a Julie. Procurei uma foto de hoje mais cedo, antes do show, editei e postei. Se a Bruna ia chiar? Ia, mas eu não estava nem um pouco ligando pra isso.

@neymarjr: A mestre não quer fotos hoje  @ Palau Municipal d’Esports

@reinadoneymar: Eu sabia que ela tinha idoooooo #apoioJuMar
@njrmylove: Meu casal
@jcelso10: Só observo
@guustavo92: “Em segredo”
@thalyamelo97: #apoioJuMar
@heloisa_ribeiro12: Assumam logo #apoioJuMar
@maryannacortes: A prova de que o amor não precisa de distância!!! Assumam logo!! #apoioJuMar

Julie: Não acredito que você postou uma foto minha! – gritou do banheiro e eu ri. Ela demorou mais alguns minutos e apareceu de pijama, toda bonitinha, mas com raiva pela foto. – Pode ir lá, Ju. – sorri ao vê-la me chamar assim.

Junior: Antes senta aqui. – bati na cama e ela sentou à minha frente. – Eu postei a foto porque a Bruna postou uma lá no Rio com o Bruno, então, as meninas iam desconfiar né? Agora, desculpa tá? – ajeitei uma mecha do seu cabelo. – Eu criei o maior climão lá embaixo e eu não quero que isso aconteça.

Julie: Tá tudo bem. – sorriu e massageou minha mão entrelaçada a sua. – Só não podemos deixar de admitir que queríamos né?

Junior: Você tá falando sério tá?

Julie: Junior, se o Gil e o Jota não tivessem chego, nós íamos cometer uma besteira. Queríamos, ok, mas foi coisa do momento. Foi fazendo um clima e ia acontecer... só que agora nós esquecemos isso e vida que segue né? Eu com o Ricardo e você com a Bruna. Se você tivesse me beijado a força, eu entenderia, iria ficar com raiva e era capaz de eu querer nunca mais olhar na sua cara, mas o beijo nem aconteceu.

Junior: Então tá tudo bem?

Julie: Sim, sem climão e sem nada.

Junior: Menos mal. Agora vou te deixar dormir que a gente vai sair mais tarde para conhecer um lugar.

Julie: Mais um?

Junior: Esse você não foi. – ela se ajeitou na cama e eu dei um beijo na sua testa. – Já volto. Não vale sentir minha falta. – ela revirou os olhos e fui trocar de roupa.

Coloquei um calção e desci encontrando os meninos jogando. Passei pela cozinha pegando um copo d'água e voltei pra sala, me jogando no sofá do lado do Jota.

Gil: Não vai mais ter como esconder. Cês se beijaram?

Junior: Não. – Jota bufou. – Cês chegaram na hora, nem deu. Mas a gente queria, eu conversei com ela lá em cima e ela me admitiu que quis, mas que foi coisa do momento. Sei lá, mano, rolou clima e ia ter beijo.

Gil: A gente podia ter chego depois né? Ela vai terminar com o Ricardo e aí tu termina com a Bruna.

Junior: Não sei, Cebola. Ela é fiel ao babaca e eu não vou... – eles me olharam. – tá, eu trairia a Bruna, mas a Julieta ia se sentir culpada, não ia falar comigo nunca mais e sinceramente? Eu não quero que a nossa amizade termine por conta de "momentos".

Jota: Se você terminar com a Bruna isso não vai acontecer.

Junior: Eu amo a Bruna, Joclésio. Esse é o problema e por mais que a gente esteja passando por toda essa nuvem negra no nosso relacionamento, eu não consigo terminar. A Julieta é aquele tipo de amiga-irmã que eu nunca posso chegar a confundir com namoro entendeu? Ela ama o Ricardo e eu amo a Bruna, simples. – levantei do sofá bufando e subi pro quarto. Vi a loira toda esparramada na cama e sorri. Escovei meus dentes, coloquei meu celular pra carregar e voltei pra cama. A abracei pela cintura, beijei seu pescoço e ela apertou mais nossas mãos. – Boa noite.

[...]

XXX: Ei... – senti alguém beijar meu pescoço. – Acorda, Ju. – abri os olhos e vi a Julieta. Sorri.

Junior: Bom dia. – bocejei. – Que horas são?

Julie: Oito e quinze. Seu celular tocou e eu acabei acordando.

Junior: Desculpa, eu nem ouvi. – ela deu os ombros e eu levantei avistando um café da manhã na cama. – Que isso?

Julie: Marcela saiu e os meninos não estão acordados aí não sabia onde ficava as coisas e resolvi comprar esse café.

Junior: Starbucks tem delivery? – levantei, fui escovar meus dentes e a vi sentada abrindo as sacolas. Cheirei seu pescoço e beijei ali. – Obrigado.

Julie: Tô com fome também né? Não faço ideia se a Starbucks tem delivery, só sei que a Cosmo só abre às dez, então, pedi da Pudding.

Junior: Não é ruim não. – falei de boca cheia e ela riu dando um tapa no meu braço. – Seu tapa dói.

Julie: É pra doer mesmo. A tia não ensinou você ser assim.

Junior: Linda. – ela deu a língua. – Olha, que quem manda língua pede beijo e pelas minhas contas já foram duas vezes.

Julie: Come aí vai! – fugiu do assunto. – Ah, onde cê vai me levar?

Junior: Na Igreja de Santa Maria do Mar.

Julie: É aquela perto do Museu Picasso?

Junior: Isso. Aí de lá a gente passa no Museu, se tiver aberto, almoça aqui e vai pro Joan Gamper.

Julie: Prefiro ficar aqui. – ri da marra. – Mas onde já se viu eu ficar lá esperando você treinar? Never! Ah, – colocou a mão no queixo. – mas tem o Bartra né? Então eu vou.

Junior: Não sei porque essa loucura por ele.

Julie: Por que ele é bonito?

Junior: Meu olho também é verde pô!

Julie: Querido, não estou falando só do olho. Agora come rápido que eu quero ir na Igreja primeiro.

Dei espaço para ela ir pro banheiro se arrumar e fui abrir e responder as mensagens da Bruna, mesmo sabendo que pelo fuso, ela nem vai olhar.

Foi por isso que você deixou me responder? (01:24)

Junior!!!!! (01:25)

Eu não acredito que essa menina tá aí!! O que ela tá fazendo aí? Ela não estuda mais? (01:26)

Dá pra me responder? (01:40)

Oi, Bruna. Eu tenho que dá atenção para as visitas né? Só respondi agora porque fiquei jogando um play com os meninos

Li as outras mensagens que faltavam, respondi o grupo dos meninos lá do Brasil e lembrei do que aconteceu ontem durante o show.

Flashback on

Terminou de tocar a música que eu cantei e eles iniciaram outra quase no mesmo ritmo. Julieta me olhou e eu continuei abraçado, com nossas mãos juntas, enquanto ela mexia as mãos ao verem eles falando qualquer coisa que não prestava atenção. Seu sorriso, naquele momento, me dominava e eu poderia esquecer tudo o que acontecia ao meu redor só para ficar do jeito em que estávamos.

Julie: We’ve been friends now for a while, I wanna know that when you smile – me olhou. – Is it me yeah? Are you thinking of me yeah?

Junior: Girl what would you do, would you wanna stay, If I were to say – meu inglês não era tão perfeito quanto o dela e eu só sabia as letras porque vim treinando esses dias. – I wanna be last, yeah, baby let me be your, let me be your last first kiss I wanna be first, yeah

Sussurrei em seu ouvido e a sentir se arrepiar. Ela cantava animadamente e olhava para mim de vez em quando dando o seu melhor sorriso. Beijei seu pescoço e ela retribuiu com um beijo na bochecha, quase, chegou bem perto, da boca. A sensação de beijá-la não tinha sido só naquele momento, mas sim, em vários outros.

Flashback off

Junior: And if you, only knew I wanna be last, yeah

Julie: Baby let me be your last... Your last first kiss – levantei a cabeça e ela sorria boba. – Decorou o Take Me Home inteiro em menos de uma semana?

Junior: Acho que sim. Você vai assim? Tá muito arrumada não?

Julie: Pra ver o Bartra? Espero não está uma mendiga.

Junior: Você tá linda. Eu vou me arrumar.

Julie: Demora não viu princesa?

Nem demorei tanto. Tá, um pouco. Mas o suficiente até pra Julieta arrumar o quarto hahaha ela é desse tipo de visita. Descemos e os meninos não tinham acordado, então fomos sozinhos. [...] Depois de conhecer a Igreja, passamos em uma feira típica de semana aqui para a Julieta comprar algumas coisas porque segundo ela a minha casa ainda está pouco decorada.

Junior: Já moça? – a abracei e lhe entreguei o suco de laranja. – O que é isso?

Julie: Aquele elefante que a gente põe com a bunda pra frente da porta. Só que não sei qual eu levo.

Junior: Leva o prata. – a vendedora nos olhou e sorriu. – Eu coloco naquela bancada que tem do lado da porta.

Vendedora: Casa nova?

Julie: Isso. Dizem que atrai bons fluidos.

Vendedora: Atrai energias positivas. Tem o Buda também, e tem essa espécie de colar que colocamos na mesa, com essa pontinha – nos mostrou e apontou para o local. – para baixo. Atrai sabedoria para uma vida a dois. Vocês devem ter se casado agora né? Ou vão casar...

Julie: Não, não... Ele que se mudou. Somos amigos.

Vendedora: AI MEU DEUS! – ela só podia ser brasileira pelo bom português que falava. – Você é o Neymar né? Menino, vem aqui! – Julie me empurrou para o lado oposto da barraca. – Meu filho é muito seu fã. Por favor, não sou cigana ok? Eu vendo essas coisas por sustento e morava em Santos. Me mudei pra cá só pra ficar de olho no meu olho que estava com um lance novo. Perdoem, eu realmente nem percebi.

Junior: Que isso! Tudo bem! – sorri e ela retribuiu aliviada. – Eu posso autografar para o seu filho e vamos tirar uma foto para ele ver. Qual seu nome? – lhe abracei.

Vendedora: Yolanda. Mas meu filho é cego. – Julieta me olhou e eu olhei para a dona Yolanda. – Ele só tem 45% da visão.

Julie: Ju, ele pode... – entendi o que ela queria dizer.

Junior: Dona Yolanda, a senhora sempre fica aqui? – ela assentiu. – Então traga seu filho e ele vai visitar o CT do Barcelona comigo e com a Julie tudo bem?

Yolanda: Ele tá ali... – apontou para uma outra barraca e um menino baixinho, careca, magro rodando uma bola enquanto estava sentado. Lembrei da minha infância. – Se você quiser, moça, eu embalo às compras.

Julieta ficou ali resolvendo o que iria comprar e eu fui até a barraca. Se a Bruna tivesse aqui no mínimo ela não iria nem querer falar com o menino, e mesmo que essa ação saísse por minha parte, eu sabia que a loira iria querer participar.

Junior: Posso jogar também? – estendi minha mão e o menino olhou. Como desacreditado, ele sorriu e se levantou jogando a bola pra mim. – Quantas embaixadinhas você consegue fazer?

XXX: Vinte e... Vinte e duas.

Junior: Vinte e duas? Com quantos anos?

XXX: Dez. Como você me achou?

Junior: Minha amiga veio aqui e acabamos parando na barraca da sua mãe. Dona Yolanda né? – ela assentiu e eu joguei a bola pra ele. – Vamos fazer uma aposta? Primeiro, qual seu nome?

XXX: Erick.

Junior: Vamos fazer uma aposta? Se você conseguir fazer vinte e duas embaixadinhas, eu te levo pra conhecer o centro de treinamento do Barcelona.                         Fechou?

Erick: Mas... – coloquei as mãos na cintura e Julieta se aproximou. – Tá. Ela vai também?

Junior: Ih ó lá, se encantou por ti. Ela vai. Julieta, esse é o Erick, Erick essa é a Julieta.

Julie: Oi, tudo bom? – se aproximou e eles fizeram um toque com as mãos. – Vai fazer embaixadinha?

Erick: Vou sim.

Julie: Ah, então eu quero. O meu máximo é doze.

Junior: Nossa, Julie, vou te ensinar então.

Erick: A gente ensina, Neymar.

Julie: Ih, tão se achando né? Vamos, quero ver o que você consegue fazer.

Erick conseguiu fazer vinte e duas embaixadinhas e Julieta vinte hahaha. Joguei um pouco com ele e saímos de lá direto para o Joan Gamper. Quando chegamos lá, Julieta o ajudou a ir até a arquibancada e ficaram os dois sentados ali. De vez em quando eu olhava e ria sozinho da diversão dos dois.

Dani Alves: Quem é? – apareceu por ali e deu um pedala na minha nuca.

Junior: Um menino que é meu fã, brasileiro e que é cego.

Dani Alves: Julie é parceira né? – Rafinha chegou por ali e começou a correr com a gente. – Gosto dela. A Thaissa pode ser amiga da Bruna, mas cara, nada ganha a simplicidade da Julieta. A verdade é isso o que eu mais gosto dela, não liga para holofote, não quer saber se você é Neymar Junior ou Juninho, tanto faz. Ela é ela e pronto.

Rafinha: Bruna tá se fazendo a verdade estrela do relacionamento de vocês.

Junior: Pior que eu sei disso tudo e mesmo assim não quero terminar porque eu sei que mesmo terminando minha amizade com a Julie vai continuar a mesma coisa, afinal de contas, ela namora né?

Dani Alves: Algo me diz que esse cara não vale nem o chão que ele pisa.

Junior: Não vale nem nota de três reais, tô falando pô! Ele já deve ter traído a Julie... – Rafinha me interrompeu.

Rafinha: Traído a Julie? Quem seria capaz?

Junior: O babacão do Ricardo.

Ouvimos o técnico chamar e saímos correndo, estilo Bolt, para o centro do campo. Teve aquele papo cabeça, disse os pós e contra do próximo time que vamos jogar e eu e meus capangas, como diz a Julie, aparecemos na arquibancada. Erick era simpático, apesar de tímido (só precisar ganhar intimidade haha), cumprimentou todo mundo, tirou foto até com o Piqué, olha aí a moral tá vendo? E no final ficou fazendo companhia pra Julie enquanto eu ia pra ducha.

Dani Alves: Patroa ligou aí, Juninho. – saí da ducha e ele me estendeu o celular. Só dei uma olhada e vi que tinham cinco chamadas e duas mensagens. É hoje!

Rafinha: Vai ouvir pouco.

Troquei de roupa, peguei minha mochila, me despedi dos meninos e retornei a ligação. Ia em direção ao refeitório, onde tinha deixado a Schutz com Erick, e ouvindo os berros da Bruna do outro lado da linha — minha vontade de desligar foi grande, mas continuei ouvindo. Queria ver onde ela iria levar tudo aquilo porque, ao meu ver, não tinha necessidade alguma.

Bruna: Neymar? Tá me ouvindo?! Responde!

Junior: Bruna, você não me deixa falar. Tô quase três minutos nessa ligação e só ouço você falar que não quer a Julieta por perto. – me aproximei dos dois e a Julie percebeu quem era na ligação. – Eu já entendi que você não gosta dela, já entendi que você quer que ela se afaste, ou que eu me afaste, mas isso não vai acontecer. Eu tenho os meus amigos, você os seus e nem por isso eu ou você vamos ter que se afastar deles por que um ou outro quer.

Julie: Eu vou andar com ele ok? – assenti e a vi levantar com Erick enquanto eu sentava na mesa.

Bruna: Ela tá aí? Ela foi pro treino com você?

E começou tudo de novo... Passamos dez minutos nos falando, quer dizer, mais ela falando que eu e o que se deu para entender da conversa é que eu tinha que me afastar. O que mais a Bruna podia fazer? Estampar nas revistas que eu a traía? Com que prova? Eu nem ligaria se isso saísse em revistas, porque, minha vontade de traí-la já saiu do zero e só não faço isso pois a única pessoa que eu trairia seria com a Julie e ela não ia querer nunca fazer esse tipo de papel. Deixa personagem para a Bruna, é melhor.
Mandei uma mensagem para a Julie avisando que já tinha acabado a ligação, esperei mais um pouco até eles chegarem e marcamos de ir para a casa do Daniel.

Julie: Ele é uma gracinha né? – assenti. Deixamos Erick na feira e já estávamos a caminho da casa do Dani. – O que a Bruna queria?

Junior: Encher o saco. – ela riu e não me contive também. – Queria falar a mesma coisa e dizer que chega dia 16.

Julie: Vou embora depois da manhã, cê sabe né?

Junior: Vai nada! Vou te sequestrar e aí cê vai ficar aqui. Eu, você e Bruna.

Julie: Quer ser morto por quem?

Junior: Vocês vão virar melhores amigas olha aí. – o celular dela tocou e ela riu. – Ricardo? – negou. – Gabi?

Julie: Tiago. – fiz cara de dúvida. – Sem ciúmes, ele é gay e já admitiu que quer pegar todos os meninos. Até o Álvaro tá na lista.

Junior: Ele é tipo o David Brazil?

Julie: Exato! Igualzinho! – atendeu a ligação e ficaram conversando até chegarmos na casa do Dani. Diferente daquela primeira vez, agora ela já estava enturmada então não tinha problema mais. E esse era mais um ponto positivo nela: os meus amigos gostavam dela e ela gostava dos meus amigos.

Dani Alves: Duvido o Juninho ter entendido uma palavra do que aqueles meninos falaram no show.

Julie: Entendeu mais ou menos. – revirei os olhos. – Ele me perguntava de vez em quando.

Junior: Perguntei uma vez porque eu não tenho culpa deles falarem enrolado.

Julie: Quatro são britânicos e um irlandês, vai dizer que quer entender o sotaque fácil? Já ouviu a Adele? Aquela mulher é impossível!

Rafinha: Tá mais que perdido, meu chapa.

Ficamos ali conversando até umas oito horas quando decidimos ir embora para comer a comida da Marcelinha. Mesmo comendo churrasco, eu não desperdiçava a comida daquela mulher, nem dela e nem da minha mãe, ou seja, podia tá satisfeito que eu ainda ia chegar em casa e comer mais haha. No caminho, não muito longo, vi que o Rafinha mandou uma foto e resolvi postar porque a Julieta disse que não queria postar nada até chegar em São Paulo — apesar de que eu duvido que ela segure-se a esse ponto.

 @neymarjr: Achem a mala nessa foto  valeu, bro! @rafinhaaa93

Julie: Até parece que a mala dessa viagem sou eu né?

Marcela: Juninho tem umas ideias para legenda que chega dá vontade de bater.

Junior: Quando tô romântico sou melhor, Marcelinha. – abracei a Julie e dei um beijo na sua nuca. – Quer jogar um play? Meu pato.

Julie: Vou te ensinar que vai ser pato de quem.

Ficamos jogando até quase meia noite quando fomos dormir e a sensação de que ela iria voltar e tudo ia voltar ao normal era tão estranho. Cada vez que sinto a Julieta perto é como se eu fosse me acostumando com a ideia de que ela faz parte da minha vida e que vamos criar um laço de amizade maior, sei lá, é meio confuso explicar só com palavras. É confuso demais.

(...)

Terça-feira, 15 de novembro de 2013

Definitivamente eu não queria levantar. Julieta estava esparramada na cama e ainda íamos parar em algum lugar para comer antes do voo. Por leseira eu acabei comprando passagem pra noite e ela tá querendo me matar desde de manhã porque vai perder aula amanhã, mas já me resolvo com o Tiago.
Em todos esses dias, tirando o dia o show, Ricardo nem deu as caras e eu estou agradecendo por isso. Suspirei, levantei e vi a mensagem da Bruna.

Amor, chego amanhã às 04:15

Tenho treino às oito e adivinha quem vai ter que pega-la? Claro porque se eu for pedir para algum dos meninos, nunca, que eles iam né? Não suportam a menina e vão fazer esse favorzão? “Nem inventa moda, Juninho” tô ouvindo a voz do Gil falando isso.
Ela vinha com a Rafa e tô querendo saber o que aconteceu para a preta ficar afastada da Julie assim de repente?! Se for a Bruna quero nem pensar no que eu faria!! Tomei um banho rápido e fui acordar a dorminhoca.

Junior: Ei, – beijei seu pescoço e ela riu agoniada. Adoro saber os seus pontos fracos. – já tá na hora.

Julie: Ai! Aqui tá tão bom... quentinho, minha Nossa Senhora, como levantar?

Junior: Falei para ficar mais dias, se quiser, pode morar aqui comigo. Vai ter cama, mesa e roupa lavada todos os dias.

Julie: Você vai fazer isso? – riu e se levantou. – Duvido como cinco mais cinco são dez que não.

Junior: Duvidando dos meus dotes de dono de casa? – a abracei.

Julie: Sou realista, baby, agora desencosta que eu preciso me arrumar.

Junior: Sou irrestivel né?

Julie: Oh God! Onde eu fui meter minha carroça? Não se iluda, querido.

Fiquei a esperando (depois diz que eu demoro), deu tempo até de jogar com os meninos, brincar com a Marcela na cozinha e quando finalmente ela desceu, se despediu dos meninos, e decidimos ir para o mc — porque ela queria sair daqui do jeito que chegou: comendo Mc Donald’s. Paramos num perto do aeroporto, descemos rápido, e ela fez os mesmos pedidos daquela madrugada. Como eu podia apostar na mega-sena, ela não aguentou e postou hahaha. Sabia!

@julietaschutz:
Mãe, só avisando que vou voltar dez quilos mais gorda!   

Depois que ela terminou de comer, fomos dirigindo pro aeroporto com ela cantando e eu nem acredito que vou ter que voltar daqui a pouco pra cá. O pior de tudo que essa alegria toda vai acabar. Ficamos um tempão esperando até o voo dela ser anunciando.

Julie: Obrigada viu? Você sabe que eu nem tenho como agradecer por esses dias e já sabe que em novembro tô de volta né?

Junior: Quanto tempo falta pra novembro mesmo? – beijei sua bochecha e ela riu abafado pelo nosso abraço. – Vai com Deus, se cuida e qualquer coisa pode ligar. Dane-se a hora, liga.

Julie: Olha que eu ligo mesmo hein. – ouvimos mais uma chamada. – Tenho que ir. Eu ligo quando chegar em São Paulo tá? Fica com Deus você também.

Junior: Te espero em novembro. – dei um beijo na sua testa e ela entrou na sala de embarque.

“Shut the door, turn the light off, I wanna be with you, I wanna feel your love, I wanna lay beside you, I cannot hide this even though I try” talvez eles tivessem razão e a única coisa que eu queria era que ela mudasse de ideia e ficasse de vez aqui. Morar fora é bom, maravilhoso, país de primeiro mundo, não temos o que reclamar, mas a falta de amigos e familiares pesa apesar de tudo. E ela — talvez saiba —, ou não, mas vai fazer muita falta.

Neymar off

Nota Final:

Quis fazer um capítulo de madrugada, com uma visão só do Neymar, espero ter alcançado as expectativas. De madrugada? Sim. De novo! Gente, fiquei muito espantada com o tamanho de comentários no capítulo passada, sério. Eu só tenho a agradecer por todo esse carinho por JuMar (fico realmente sem palavras).
Grande beijo, muita luz e até o próximo capítulo!

••• Dez comentários e eu continuo!